Fama,  mulheres e dinheiro. Todo menino que sonha ser jogador de futebol  se  imagina rodeado desses fatores e faz questão de ostentá-los.   Principalmente quando esse tipo de conquista acontece no início da   carreira. A imaturidade que a pouca idade sugere muitas vezes não é   deixada de lado com o tempo. Com isso, aumentam os problemas e a   produtividade em campo, que é o principal nesses casos, cai   vertiginosamente. No entanto, temos exemplos de mudanças radicais de   conduta. O agora ex-badboy Léo Lima é um indício de que isso realmente   pode acontecer. Aos 29 anos, ele garante viver única e exclusivamente   para fazer bem à sua família e a tem como prioridade em todos os   momentos. Uma das razões dessa nova postura se deu por conta do lado   espiritual. O ex-meia de grandes clubes como Vasco, Flamengo e São Paulo   passou a frequentar a Igreja Evangélica e está decidido a oferecer um   futuro mais próspero à própria vida e à de seus entes queridos.
Atualmente no Al-Nasr, dos Emirados  Árabes, time treinado pelo italiano  Walter Zenga (ex-goleiro da  Azzurra), Léo Lima dá mostras de que  evoluiu sensivelmente também no  quesito profissionalismo. Apesar de  estar de férias (se reapresentará  no dia 14 de julho), ele faz questão  de manter a forma para voltar a  seu clube na melhor condição possível.  Para isso, ele vem contando com o  suporte do amigo Guido, companheiro  nas categorias de base de Vasco e  Madureira, que é gestor de um projeto  para atletas de alto rendimento  não desviarem o foco da profissão  durante o período em que a sua  respectiva temporada está em recesso.
Mesmo de férias no Rio, Léo Lima mantém a sua forma na praia (Foto: Cassius Leitão / Globoesporte.com)
Com  ar sereno, Léo garante que o novo jeito de levar a vida não é da  boca  para fora. Numa conversa franca, ele falou sobre vários assuntos.   Admitiu que quando mais jovem foi direto da noitada para alguns treinos,   comentou sobre a situação do atacante Jobson - que corre risco de ser   banido do futebol devido às drogas -, e falou sobre a importância da   religião e de sua esposa Nathalia para que o amadurecimento enfim desse   as caras tanto âmbito pessoal como no profissional. A filha Ana Sophia,   de quatro anos, também colaborou para a mudança repentina do jogador.   Outra curiosidade é o desejo de encerrar a carreira com a camisa do   Goiás, clube que defendeu durante o Campeonato Brasileiro de 2009.
- Fiz muitas coisas erradas. Uma delas  era sair para as noitadas e  depois ir direto para o treino. Isso  aconteceu muito quando eu era do  Vasco e tinha 18 ou 19 anos. Mas nunca  faltei treino ou cheguei  atrasado. Às vezes, chegava cedo até demais  por conta do horário que  saía da farra (risos). Mas garanto que nunca  cheguei para treinar  embriagado. - declarou Léo Lima, revelando que os  tempos de  irresponsabilidade ficaram para trás.
Confira a entrevista com Léo Lima na íntegra:
GLOBOESPORTE.COM: Por que seu início de carreira foi cercado de polêmicas e qual foi a principal razão dessa sua mudança de atitude dentro e fora dos gramados?
Léo Lima: Minha origem é de um lugar e  uma família humildes. Saí de  Bangu e cheguei à fama muito rapidamente.  Deslumbrei um pouco e jamais  pensei nas conseqüências. Chega uma hora  da vida em que temos de dar um  basta. Ficaria até feio fazer tudo que  fiz na idade que tenho (29).  Depois da chegada da minha filha e que me  converti à Igreja Universal,  mudei muito. Minha vida mudou da água para  o vinho. Eu era muito  explosivo, queria brigar por tudo. Deus e minha  família me fizeram dar  um “upgrade” na vida. Antes, eu só vivia na rua e  esquecia de dar  atenção até mesmo aos meus parentes. Agora, sou um  cara família. Tudo  que eu faço é para eles e com eles. Quando vejo o  sorriso da minha filha  Sophia, percebo que tenho que trabalhar muito e  me dedicar para dar o  melhor futuro possível para ela. Ela não pode  crescer e as pessoas  acharem que sempre teve um pai ausente. Sempre vou  procurar orienta-la a  seguir um bom caminho.
GE: Você está nos Emirados Árabes há cerca de um ano. Como tem sido a sua adaptação a um país de cultura tão diferente da brasileira?
LL: No começo foi muito difícil. Jogar  com estádios vazios e com um  calor que beirava os 49ºC não me  entusiasmava tanto, mas depois  acostumei. Cheguei em julho de 2010,  indicado pelo Hélio dos Anjos.  Porém, ele não ficou lá por muito tempo e  entrou um treinador árabe que  não me colocava muito para jogar. Com  isso, quase aceitei uma proposta  da Coréia do Sul. No início deste ano,  chegou o Walter Zenga, que foi  goleiro da seleção italiana e gosta  muito dos brasileiros. Logo de cara  ele me colocou no time e hoje sou  um dos homens de confiança dele. Tenho  jogado de volante e ajudei o  clube na excelente campanha que garantiu  uma vaga para a Liga dos  Campeões da Ásia.
Em família, com cunhados Caio e Rayza, esposa
Nathalia e filha Ana Sophia (Cassius Leitão/GE.com)
Nathalia e filha Ana Sophia (Cassius Leitão/GE.com)
GE:  Apesar de poucos se lembrarem, você tem uma história bonita  nas  categorias de base da Seleção Brasileira, chegando a ser campeão   mundial sub-17 em 1999, na Nova Zelândia. Fale um pouco daquela   conquista.LL: Pegamos a Austrália na estréia da  primeira fase e vencemos por 2 a  1. Depois, tivemos dois empates por 0 a  0 e nos classificamos para a  fase final. Passamos por Paraguai e Gana  antes do reencontro com a  Austrália na decisão. Vencemos nos pênaltis  por 8 a 7. Eu bati nas  cobranças alternadas e a bola chegou a tocar na  trave antes de entrar,  em lance parecido com o do Romário na Copa de  94. Foi um alívio grande e  uma emoção maior ainda quando conquistamos o  título. Aquele elenco  tinha jogadores consagrados no futebol atual.  Adriano (Corinthians),  Souza (Bahia), Diego Cavalieri (Fluminense),  Eduardo Costa (Vasco) e  Andrezinho (Internacional).
GE: Como você lidava com a fama de badboy e com as notícias polêmicas que envolviam o seu nome e o do seu inseparável amigo Souza? E como surgiu essa amizade?
LL: Eu nem ligava na época. Sabia que  estava errado e que tinha feito  algumas besteiras mesmo. Não me  arrependo de nada, mas a minha cabeça  agora é outra. Joguei junto com o  Souza desde moleque. Fomos para outros  clubes juntos e só nos  separamos quando ele foi para o Internacional e  eu fui para o Porto.  Sempre estava com ele quando me metia em problemas  (risos). Mas podem  falar o que quiserem dele. Sei que é uma pessoa  maravilhosa, e que  ajuda muita gente. Ele também está bem mais calmo  atualmente. Se  continuássemos com a conduta que tínhamos, seria uma  idiotice.
GE: Você foi muito novo para o futebol europeu, com passagens pela Bulgária e por Portugal. Por que você não conseguiu se estabelecer no Velho Continente?
LL: Ao todo, fiquei três anos na  Europa. Foram apenas três meses na  Bulgária. Nem conto muito. No Porto,  tinha totais condições de jogar.  Porém, não me dedicava tanto e acabei  me deixando levar pelo  desinteresse. Eu achava que ia jogar quando  quisesse, numa postura  auto-suficiente. Mas é uma página virada na  minha vida.
GE: Você já teve muitos treinadores de renome na sua carreira. Quem foi o melhor de todos eles?
LL: A maioria dos treinadores que tive  me ajudou. O Luxemburgo e o  Hélio dos Anjos foram muito importantes. O  Luxa me deu chance no Santos e  no Palmeiras. Fomos campeões paulistas  por ambos. O Hélio foi quem me  deu oportunidade no time profissional do  Vasco. Não posso esquecer do  Ricardo Gomes, Antonio Lopes e Evaristo  de Macedo. Sou grato a todos.
GE: Por que as suas passagens pelo Flamengo e pelo Grêmio foram frustradas?
LL: No Flamengo, realmente nada deu  certo. No Grêmio, no entanto, eu  estava bem até ser obrigado a passar  por uma cirurgia no joelho  esquerdo. Quando voltei, estava acima do  peso e não consegui recuperar o  meu lugar. Quando o Mano Menezes não me  inscreveu na Libertadores, pedi  para ir embora. Não tinha mais o que  fazer lá sem jogar a principal  competição que o clube disputaria.
GE: Além do Souza, quem são seus grandes amigos no futebol? Você ganhou inimigos nesses anos de carreira?
LL: Tenho vários amigos. Hugo  (ex-Grêmio), Diego Souza (Vasco), Lenny,  Alex Mineiro e Carlos Alberto  são alguns exemplos. Não tenho inimigos.  Nunca tive problema com  ninguém nos clube que atuei. Eu não dava bola  para quem eu não gostava,  mas não tenho raiva nem mágoa de ninguém. Sei  que fazia coisas erradas  e não vou botar a culpa nos outros por elas.  Quem faz o errado, tem  que pagar. Colhi tudo o que plantei e agora  restaurei a minha vida.
Adaptado aos Emirados, Léo Lima espera ficar por
lá mais um bom tempo (Foto: Arquivo Pessoal)
GE: Qual foi o título mais marcante da sua carreira?lá mais um bom tempo (Foto: Arquivo Pessoal)
LL: Todos que conquistei são  inesquecíveis. Mas guardo dois deles com  um carinho especial. O que  mais me marcou foi o da final do Carioca,  pela jogada de letra que fiz  em um dos gols do Vasco contra o  Fluminense. O Paulistão de 2008 pelo  Palmeiras também foi maravilhoso. O  time não conquistava o Estadual  havia 12 anos. Fiz um gol na semifinal  contra o São Paulo, que foi a  verdadeira final antecipada. Sofri uma  contusão e não joguei os dois  confrontos da final contra a Ponte Preta.  Mesmo assim, fui eleito o  melhor segundo volante da competição.
GE: Como você analisa o caso do Jobson, que pode ser banido do futebol por conta do uso de drogas flagrado nos exames antidoping?
LL: È um caso preocupante, mas acho  precipitado bani-lo do futebol. Ele  tem família que depende muito do  sucesso da carreira dele. Sinto pena  dele por ter de enfrentar de  situação. É um cara de talento  incontestável, que tem condições de  chegar à Seleção se tiver a cabeça  no lugar. É jovem e pode mudar de  conduta. Espero que dê tudo certo para  ele.
GE: Você já usou drogas?
LL: Graças a Deus, nunca experimentei  qualquer tipo de droga. Não sei  nem o gosto. Como sei que é uma coisa  ruim, nunca tive a curiosidade.  Fui criado em um lugar que muita gente  usava e se dava mal por isso. A  minha infância difícil também deixou  ensinamentos em alguns aspectos.  Esse foi um deles.
GE: Você tem contrato com o Al-Nasr-EAU até a metade de 2013. Quais são as suas metas para a seqüência da carreira de jogador?
LL: Quero ficar nos Emirados mais uns  quatro anos. Minha família está  feliz lá. E temos sossego. No fim da  carreira, gostaria de voltar a  defender o Goiás. É um clube que gosto  muito. Minha esposa adora a  cidade e isso só aumenta a minha vontade de  um dia retornar ao  Esmeraldino. Fiquei muito chateado quando o Goiás  caiu para a Segunda  Divisão. Espero que suba para a Série A o quanto  antes.
GE: Essa vida atribulada que levava no início da carreira, você deve ter boas histórias. Pode contar alguma?
LL: Fiz muitas coisas erradas. Uma  delas era sair para as noitadas e  depois ir direto para o treino. Isso  aconteceu muito quando eu era do  Vasco e tinha 18 ou 19 anos. Mas nunca  faltei treino ou cheguei  atrasado. Às vezes, chegava cedo até demais  por conta do horário que  saía da farra (risos). Mas garanto que nunca  cheguei para treinar  embriagado.
GE: Você está casado há sete anos. Qual a importância da sua esposa na reformulação da sua conduta?
LL: A Nathalia foi o principal  alicerce para essa mudança. Minha  família é tudo para mim. Amo meus  pais, me dou muito bem com eles. E  tenho como prioridade fazer o bem  para a minha filha e minha esposa. Ela  lutou muito pela nossa  felicidade, prezou pelo nosso casamento. Nem sei  o que seria de mim sem  ela. Sou um homem realizado, com a vida  restaurada e a família  reestruturada. E com paz dentro de casa.
GE: Qual o gol mais importante da sua carreira?
LL: Sem dúvidas o que fiz pelo  Palmeiras contra o São Paulo, na  semifinal do Paulista de 2008. Por ter  sido num clássico decisivo e em  cima do goleiro que foi, o Rogério  Ceni, que é espetacular.
GE: Na sua chegada ao Flamengo, em 2007, os torcedores pediram que você beijasse a camisa rubro-negra. Sua reação foi diferente e com uma resposta inusitada. Lembra o que você falou?
LL: Falei para eles que tinha que jogar bola. Beijo mesmo, eu tinha que dar na minha filha e na minha esposa (risos). 
Passeio de camelo com a filha Ana Sophia (de 4 anos), que já conta até dez em árabe (Foto: Arquivo Pessoal)
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2011/06/apegado-religiao-e-familia-leo-lima-busca-ser-exemplo-para-filha.html




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